Durante a história da ciência, muito esforço foi colocado em busca da identificação de leis gerais que regiriam a ordem dos fenômenos do mundo natural e do mundo humano. Dentro da demografia, não foi diferente.
No final da década de 1920, o demógrafo americano Warren Thompson criou o chamado demografic transition model, ou, em português, modelo de transição demográfica. Este modelo, criado a partir da observação da realidade europeia, nada mais é que uma ferramenta teórica para a leitura, compreensão, interpretação e planejamento acerca da dinâmica do crescimento populacional global. Thompson defendia que as sociedades passariam por um longo período de transição, onde se deixaria um rarefeito e/ou nulo crescimento populacional, provocado por elevados índices de natalidade e de mortalidade, para um ainda rarefeito e/ou nulo crescimento populacional, mas, desta vez, provocado por baixos índices de natalidade e de mortalidade.
Neste processo de transição, as taxas de mortalidade cairiam antes que as taxas de natalidade, causando, por consequência, neste período, um rápido crescimento populacional, referenciado por alguns estudiosos como um período de explosão demográfica. Observe o que foi descrito no gráfico genético abaixo.
Estes períodos de oscilação histórica nas taxas de crescimento populacional foram categorizados em fases, cada uma com um conjunto de características específicas que explicaria a relação taxa de natalidade/taxa de mortalidade no período analisado. Dependendo da abordagem, podemos falar em três, quatro ou até cinco fases. Aqui, trabalharemos com quatro fases e discorreremos um pouco sobre a quinta.
Linha do tempo da evolução das fases do crescimento demográfico. Clique para ampliar. Datas aproximadas. |
Esta fase ocorreu na Europa desde a formação das primeiras civilizações até meados do século XVIII. No Brasil, se estendeu até a década de 1940.
É uma fase marcada por altas taxas de natalidade e altas taxas de mortalidade, causando um crescimento vegetativo bastante retraído. Dentre os motivos para estes índices, podemos citar o pouco desenvolvimento da medicina no período, as péssimas condições sanitárias, as constantes guerras e epidemias, entre outros. O planejamento familiar era quase nulo, sendo comum casais terem muitos filhos. Isto relaciona-se também ao fato cultural dos filhos, neste período, significarem mão-de-obra para os trabalhos familiares.
É uma fase onde tipicamente as populações concentram-se no meio rural, sem as facilidades da vida urbana.
Atualmente, nenhum país no mundo encontra-se nesta fase.
Taxa de natalidade: muito alta;
Taxa de mortalidade: muito alta;
Crescimento vegetativo: baixo.
Segunda fase – Fase do crescimento acelerado (século XVIII até final do século XIX)
Nesta fase, a taxa de mortalidade começa a cair, enquanto que a taxa de natalidade continua elevada, provocando um crescimento acelerado da população. Ocorreu do século XVIII ao final do século XIX nos chamados países “industrializados velhos” (Reino Unido e França) e do século XVIII ao século início do século XX nos “industrializados novos” (Estados Unidos, Alemanha, Japão). No Brasil, ocorreu entre 1940 e 1970.
Nos países do centro do sistema capitalista, esta fase está muito relacionada com a Revolução Industrial, que trouxe novas condições de vida para o mundo moderno. Surgiam tratamentos para doenças, se produzia alimentos em larga escala e se melhoravam as condições sanitárias e médico-hospitalares. Todos estes fatores cooperaram para a diminuição da taxa de mortalidade da população. Também é o período marcado pelo início da urbanização e da superação da condição rural.
No Brasil, relaciona-se também com a introdução do combate à doenças como a cólera e a malária.
Atualmente, alguns países africanos encontram-se nesta fase, como Níger, Somália, Uganda, além do centro-americano Haiti.
Taxa de natalidade: muito alta;
Taxa de mortalidade: baixa;
Crescimento vegetativo: muito alto.
Terceira fase – Fase do crescimento moderado (final do século XIX até meados dos anos 1940)
Neste período, ocorre a diminuição da taxa de natalidade, enquanto que a taxa de mortalidade permanece baixa. O crescimento vegetativo, portanto, ainda ocorre, mas é em menor velocidade que na fase anterior. Na Europa, ocorre do final do século XIX (ou início do século XX) até meados da década de 1940. O Brasil situa-se ainda nesta fase, mais precisamente no final dela.
Este período é marcado pela consolidação do modo de vida urbano, em detrimento do modo de vida rural. Os filhos, que antes significavam um engrossamento da mão-de-obra nos trabalhos familiares, passam a ser motivos para gastos. A mulher insere-se no mercado de trabalho, se tornando mãe cada vez mais tarde. Surgem também a maioria dos métodos contraceptivos, que permitirão um melhor planejamento familiar.
É o estágio onde encontram-se a maior parte dos países subdesenvolvidos industrializados, como Brasil, México e Índia.
Taxa de natalidade: alta, porém decrescendo;
Taxa de mortalidade: baixa;
Crescimento vegetativo: alto.
Quarta fase – Fase do envelhecimento (meados dos anos 1940 até os dias atuais)
A quarta fase é resultado de um prolongamento dos processos da fase anterior. A taxa de natalidade, que vinha caindo, se estabiliza em valores baixos. A taxa de mortalidade, como vinha acontecendo desde a segunda fase, continua baixa. Com isso, o crescimento vegetativo também é baixo.
Também é conhecida como fase do envelhecimento pelo fato da idade média da população nestes países ser relativamente alta. Isto ocorre por conta da elevada expectativa de vida (relacionada com a baixa mortalidade), associada com o pequeno número de filhos por casal. A população infantil, assim, descresse em relação à população idosa.
Quando um país chega nesta fase, pode-se dizer que a transição demográfica foi concluída. É o caso da maioria dos países desenvolvidos, como Japão, Noruega e Suécia.
Taxa de natalidade: baixa;
Taxa de mortalidade: baixa;
Crescimento vegetativo: baixo.
Uma quinta fase?
Um fenômeno que vem sendo observado em algumas nações do mundo, especialmente na Europa, é um encolhimento da população absoluta. Isto é resultado de uma diminuição ainda maior da taxa de natalidade, chegando esta a ficar menor que a taxa de mortalidade, criando um crescimento vegetativo negativo.
A Rússia, por exemplo, em 1992, atingiu uma população de 148,7 milhões de habitantes. Em 2009, esta população caiu para 141,9 milhões. Em 2013, este número voltou a aumentar, subindo para 143,5 milhões. A Alemanha tinha 82,53 milhões de habitantes em 2003. Em 2013, este número chegou a 80,62 milhões. Na Lituânia, este fenômeno pode ser claramente observado: a população do país chegou a 3,7 milhões de habitantes em 1992. Em 2013, caiu para 2,95 milhões.
Taxa de natalidade: muito baixa;
Taxa de mortalidade: baixa;
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