A Teoria dos Ciclos Longos, ou Teoria dos Ciclos de Kondratiev, foi criada pelo economista russo Nikolai Kondratiev, durante o período de domínio da União Soviética. Esta teoria defende que a dinâmica econômica global, a partir da Primeira Revolução Industrial, foi e é constituída de ciclos, onde fases de expansão econômica são seguidas, contiguamente, de fases recessivas.
Esta teoria foi bastante mal recebida na época, tanto no lado capitalista, quanto no lado comunista. Para os soviéticos, acreditar que o capitalismo, após a Crise de 1929, iria se recuperar, e que este período recessivo era apenas uma fase, que logo seria seguida por um período de crescimento, era bastante desconfortável. Da mesma forma, o bloco capitalista não via como agradável a ideia de que o capitalismo passaria por crises de tempos em tempos.
Para entender o processo dinâmico do ciclo, foquemos, inicialmente, no primeiro deles. Segundo esta concepção, o primeiro ciclo longo teria se originado em 1790, nos primórdios da Primeira Revolução Industrial. A máquina a vapor, invenção graúda do período, cria novas perspectivas de lucro, suscitando vultosos investimentos no setor industrial. Este ambiente de superlucro acaba acarretando na fase expansionista do ciclo, a fase a. Aos poucos, porém, o capitalista começa a frear seus investimentos. Começa a existir uma superprodução e uma concorrência que desarticulam a lucratividade de outrora. Inicia-se, assim, em meados de 1820, a fase recessiva, ou fase b, do Ciclo Longo.
Tais fases recessivas, porém, são acompanhadas pelo surgimento de invenções que, quando aplicadas no mercado, serão impulsionadoras de uma nova fase ascendente. A principal invenção da fase depressiva do primeiro ciclo foram os meios de transporte movidos a vapor, como o trem e o navio, que abriram um novo leque de oportunidades para os investidores. Tal dinâmica pode ser entendida melhor com o esquema abaixo.
O primeiro ciclo longo teve seu fim em 1848, dando lugar à fase a do segundo ciclo.
O segundo ciclo começa com a aplicação dos transportes movidos a vapor, ou seja, na transformação destes de invenções para inovações. Abrindo novas oportunidades de mercado, esta inovação atraiu novos investimentos que, segundo a mesma ideia de ciclo, trouxeram superlucros. Conforme mais capitalistas iam investindo neste novo modal, ocorreu um aglutinamento de produção e de concorrência, gerando uma nova fase decadente em meados de 1873. Como característico da fase b, surgem novas invenções, entre elas, as principais foram a eletricidade e o motor a combustão. Quando tais invenções foram aplicadas no mercado, iniciou-se uma nova fase ascendente, a partir de 1896.
O terceiro ciclo é o característico da Segunda Revolução Industrial, e será liderado por Alemanha e Estados Unidos. A Inglaterra, que liderou a Revolução do primeiro ciclo estava presa ao seu parque industrial antigo e não estava apta a arriscar investimentos com o uso das invenções da fase b do ciclo anterior. É também o período de início do capitalismo financeiro ou monopolista. As invenções da fase recessiva deste ciclo foram, entre outras, o avião a jato, as telecomunicações e o uso de petroleiros.
O quarto ciclo estende-se até os dias atuais e está ligado à Terceira Revolução Industrial. Inicia-se em 1948 e se estende até 1973, no período conhecido como anos gloriosos da social democracia. A fase b, que continua até hoje, é marcada por invenções como a robótica, a biotecnologia e a telemática (união entre telecomunicações e informática).
Nota-se que esta fase recessiva está durando um tempo muito maior que as fases dos ciclos anteriores. Já são cerca de 43 anos na fase b. Isto decorre de um processo de administração do período de crise por parte das nações do centro do sistema capitalista, especificamente pela ação de seus Bancos Centrais (BC). Existe atualmente um descompasso entre a economia real, aquela concentrada em produtos e serviços, da economia virtual, centrada no comércio de ações e de títulos públicos. Os BC’s atuam gerenciando este descompasso, impedindo o engendramento de um novo período de ascensão, pois os investimentos concentram-se na ciranda financeira, ao invés de serem revertidos para as invenções que, consequentemente, suscitariam no surgimento de um novo ciclo.
A justificativa para este fenômeno é que as nações que encabeçam o sistema atual não querem passar pelo mesmo processo que ocorreu com a Inglaterra no terceiro ciclo, onde seu parque industrial desatualizado proporcionou a ascensão de nações como Alemanha e EUA. Os governos destas nações não querem atravessar pela destruição necessária para a criação de um novo ciclo.
O Brasil, que teve sua relação com os ciclos analisada principalmente por Ignácio Rangel, teve uma dinâmica diferente, apesar que não fugir do processo cíclico do centro do sistema. A cada fase recessiva, nosso país entrava em um processo de substituição de importações. Ora, se os centros produtores de mercadorias estavam passando por maus momentos, restava para o Brasil crescer para dentro, isto é, produzir aqui o que antes era importado de fora. No primeiro ciclo, esta substituição gerou uma diversificação produtiva nas fazendas monocultoras, no segundo, impulsionou a produção do artesanato, e, somente no terceiro, resultou em um processo de industrialização.
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