Conflito Irã-Iraque (1980 – 1988)
O conflito entre Irã e Iraque, os dois países com as maiores proporções de população xiita do Oriente Médio, tem suas raízes em uma mudança na direção política do Irã, proporcionada pela Revolução Islâmica, que ocorreu em 1979.
Desde 1953, o Irã era governado pelo xá Reza Pahlevi. Este recebeu o cargo de seu pai, o General Reza Shah Pahlevi, que assumiu o poder em 1921, durante o período de formação do Irã como país. O governo do xá era liberal, alinhado ao Ocidente e mantinha boas relações com os Estados Unidos, sendo um dos seus principais aliados na região e um grande parceiro na exploração petrolífera. Tudo muda quando o aiatolá Ruholá Khomeini, de tendência xiita, conversadora e fundamentalista, assume o poder a partir da Revolução Islâmica, instaurando a República Islâmica do Irã;
Localização das nações envolvidas nos conflitos que serão trabalhados neste artigo. |
Em seu governo, Khomeini transforma o país em um regime teocrático, instaurando leis que seguiam rigidamente as interpretações xiistas do Alcorão. Ao mesmo tempo, iniciava um processo de afastamento das potências Ocidentais, especialmente dos Estados Unidos.
À esquerda, o xá Reza Pahlevi. À direita, o aiatolá Ruholá Khomeini. |
Se a ascensão do anti-ocidentalismo preocupava as nações do ocidente, o mesmo pode-se dizer dos vizinhos muçulmanos. O levante xiita no Irã poderia servir de exemplo para que minorias xiitas no Oriente Médio lutassem pelo controle de seus respectivos países. A nação mais preocupada com esta crescente era, sem dúvida, o Iraque, governado por sunitas, mas onde a maioria da população, assim como no Irã, é xiita.
Com objetivo de se opor ao novo governo iraniano, os Estados Unidos apoiam a ascensão de Saddam Hussein, de cunho nacionalista, no Iraque. Hussein tornou-se um importante líder estratégico em defesa dos interesses americanos no Oriente Médio. Como pretexto, no ano de 1980, Saddam reclama a posse do canal Chatt-el-Arab, única estreita ligação que os iraquianos possuíam com o Golfo Pérsico, que estava sob o controle do Irã. Com a recusa do país vizinho em ceder a posse do canal, usado pelo Iraque para escoar sua produção petrolífera, as tropas de Hussein invadem o Irã.
Muito esforço foi dispendido durante o conflito por ambas as nações. Um episódio marcante ocorreu em 1985, quando Hussein, depois de um levante curdo (minoria concentrada no norte do Iraque), ordenou o massacre de cerca de 5 mil pessoas pertencentes a minoria. Em 1988, por recomendação da ONU, Irã e Iraque assinam um cessar-fogo. Ambas as nações estavam esgotadas politicamente e arrasadas economicamente.
Primeira Guerra do Golfo (1990 – 1991)
Após o fim do primeiro conflito, as nações ocidentais, bem como o restante do mundo árabe, haviam conseguido o seu objetivo principal: enfraquecer o governo xiita do Irã. O Iraque, porém, depois da guerra, também encontrava-se em péssimas condições. Sem o apoio americano e objetivando aumentar o poderio sobre jazidas petrolíferas no Oriente Médio, as tropas de Bagdá invadem o Kuwait, pequeno país localizado nas margens do Golfo Pérsico. Como justificativa, os iraquianos afirmavam que o Kuwait estava explorando jazidas pertencentes ao seu país, além de manterem uma política de exploração que abaixava o preço do barril no mercado internacional.
Saddam Hussein, ex-presidente do Iraque. |
Com o salto no preço do barril de petróleo, causado pela invasão, os Estados Unidos começaram a ver o Iraque como um entrave aos seus interesses econômicos. Assim, com aval da ONU, o governo de Washington introduz um bloqueio naval e um embargo econômico sobre os iraquianos. Alguns meses depois, a Organização das Nações Unidas (ONU) autorizou a intervenção direta das tropas americanas sobre o Iraque, exigindo a saída dos combatentes iraquianos do Kuwait, o que acabou acontecendo ainda em 1991.
A partir deste conflito, Iraque e EUA tornaram-se rivais dentro do contexto geopolítico. Em 1992, os americanos apoiaram as duas principais minorais do país, os curdos, concentrados ao norte, e os xiitas (mesmo grupo o qual os americanos combateram na guerra contra o Irã), concentrados ao sul. Os EUA, em conjunto com outras nações ocidentais, criaram, acima do paralelo 36º N, na região de concentração curda, e abaixo do paralelo 32º N, na região de concentração xiita, duas zonas de exclusão, onde a ação do governo de Bagdá não seria permitida.
Zonas de exclusão |
Houveram tentativas, por parte do governo de Hussein, em atrair o apoio dos outros países do mundo árabe, com alguns ataques à Israel. Por conta da força diplomática dos EUA, bem como sua influência econômica, isto acabou não acontecendo.
Entenda qual a origem da rivalidade entre árabes e israelenses. Acesse: Questão palestina.
Neste contexto, os EUA acreditavam que Saddam Hussein, antes aliado, agora um dos principais inimigos dos interesses americanos, seria deposto do cargo de presidência do Iraque pela própria população. Isto, porém, acabou não acontecendo. Para viabilizar a destituição de Hussein, o governo de Washington passou a acusar Bagdá de desenvolver, às escondidas, um arsenal químico e biológico, fato que jamais foi comprovado. Usando este argumento como justificativa, mesmo sem apoio da ONU, o presidente George W. Bush ordena a invasão, em 2003, do Iraque, iniciando a chamada Segunda Guerra do Golfo, também conhecida como Guerra do Iraque.
Segunda Guerra do Golfo (2003 – 2010)
As forças americanas, com apoio do exército inglês, invadem em março de 2003 o Iraque, em uma operação conhecida como “Operação Liberdade do Iraque”, através de um bombardeio. Logo nas primeiras semanas de confronto, a diferença entre a força anglo-americana e iraquiana ficaram evidentes. Em dezembro de 2003, os EUA declararam vitória sobre os combatentes de Bagdá, sendo Saddam Hussein deposto, capturado e, em seguida, enforcado.
Mesmo após a deposição de Hussein, o conflito manteve seu mesmo nível de violência, punindo, na maioria das vezes, inocentes. A queda do ditador incentivou a rebeldia de grupos extremistas, especialmente identificados com as correntes xiita e sunita do Islã. Assim, indiretamente, a ação das nações ocidentais sobre o Iraque impulsionou a deflagração de conflitos internos que estavam estagnados pela repressão de Hussein, provocando inúmeras guerras civis após a queda do ditador. Em 2004, os EUA empossaram um novo governo, mas o mesmo não conseguiu controlar a situação.
Em 2010, o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, determinou a retirada do exército americano das terras iraquianas. As marcas deixadas pelo conflito, porém, persistem até hoje.
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