A Guerra Civil da Síria é, atualmente, um dos conflitos mais complexos e sangrentos do mundo, envolvendo interesses diretos de potências regionais e globais.
A Síria ocupa uma posição estratégica no Oriente Médio. Apesar de não ter grandes reservas de petróleo e de gás natural, o país se apresenta como uma das principais rotas para a exportação direta destes produtos pelo Mar Mediterrâneo. O país faz divisa com a Turquia, ao norte, com o Iraque, a leste, com a Jordânia, ao sul, com Israel, a sudoeste, e com o Líbano e o Mar Mediterrâneo, a oeste.
Desde a década de 1970, a família Assad governa o país. Primeiramente com Hafez, que governou de 1971 até 2000, e, posteriormente, com seu filho Bashar, que é presidente até hoje. Este quadro político criou, durante o governo de Bashar, uma insatisfação geral na população síria. O governo de Damasco era constantemente acusado de corrupção e falta de transparência. O estopim para esta insatisfação ocorreu quando, em diversos países árabes, como Egito, Tunísia e Líbia, uma série de manifestações ocorreram, reivindicando renovação da classe política de seus respectivos países, além de mais democracia, liberdade e transparência. Este movimento, conhecido como Primavera Árabe, se alastrou rapidamente, chegando até a Síria.
Bashar al Assad, atual presidente da Síria. Por Kremlin.ru, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=44370013. |
Em março de 2011, um grupo de adolescentes foi duramente reprimido após pintar, no muro de uma escola, na cidade de Daraa, frases antigoverno. Após a prisão e a suposta tortura destes jovens, um inflamado levante iniciou-se no país, levando centenas de milhares de pessoas às ruas naquele ano. Bashar Al-Assad, porém, usou a força para reprimir as manifestações que, até então, eram pacíficas. Esta repressão, ao contrário do esperado, acabou dando mais força ao movimento, fortalecendo o grupo de rebeldes.
Aos poucos, esta insurgência se transformou em um levante armado. Os rebeldes, em conjunto com grupos de desertores do exército oficial sírio, incumbido de reprimir a população, se uniram em uma coalizão contra Assad, formando o FSA (Exército Livre da Síria). Esta organização é sunita e laica, conhecida pelo ocidente como Oposição Moderada.
O conflito ia tomando cada vez contornos mais sectários, se transformando em uma disputa entre o governo xiita alauíta de Assad, contra a maioria da população sunita. A situação ficou ainda mais complicada quando dois outros grupos, a Al-Nusra, braço da Al-Qaeda na Síria, e o Estado Islâmico, entraram na disputa. Ambos agem contra o governo Assad, mas também rivalizam com os rebeldes e entre si. Estes dois grupos são sunitas radicais, sendo o EI filiado à corrente wahabista, uma ala mais conservadora e extremista do Islã sunita.
O Estado Islâmico, que surgiu a partir da Al-Qaeda, é conhecido pelas suas atrocidades durante a guerra e também por promover ataques terroristas no mundo ocidental. No conflito sírio, fazem uma “guerra dentro da guerra”, visto que se opõem ao governo de Assad, aos rebeldes e aos jihadistas da Al-Nusra. Seu objetivo é a criação de um Estado próprio para os muçulmanos. Atualmente, controla áreas na Síria e no Iraque.
A Síria atualmente se encontra dividida, cada um dos grupos controlando uma determinada porção do território do país.
Mapa da guerra civil síria |
Os apoios das potências globais e regionais
Certamente, um conflito em uma região tão importante em escala regional e global teria um posicionamento direto das grandes potências. A principal e mais importante diferenciação entre os apoios ocorre em relação ao governo de Bashar Al-Assad. Entre os países que apoiam o regime, temos a Rússia e o Irã.
Os russos são parceiros há muito tempo do governo de Damasco. A Síria é uma das principais compradoras de armamentos russos. Além disso, na Síria fica localizada a única base naval militar do governo de Moscou no Mar Mediterrâneo, a base de Tartus. Já o apoio do Irã pode ser entendido por motivos religiosos: o país é a grande potência xiita da região. O governo Assad, assim como o Irã, é xiita, apesar da maioria da população ser sunita. Além disso, assim como no caso da Rússia, os iranianos são opositores das ações do Estado Islâmico, grupo sunita radical. Ambos os países fazem oposição aos grupos rebeldes.
Entre os países opositores ao governo de Assad, temos os EUA, a Arábia Saudita e a Turquia. Os americanos veem na saída de Assad a única forma de solucionar o conflito. Também se apresentam como uma oposição ao Estado Islâmico e apoiam os rebeldes moderados.
A Arábia Saudita, potência sunita da região e grande rival do Irã, se opõe governo xiita de Assad, ao mesmo tempo que financia a ação de rebeldes, inclusive mais radicais. O Irã acusa a Arábia Saudita de enviar auxílios ao Estado Islâmico. Alguns milionários do país já fizeram doações ao grupo. A maioria da população saudita segue a corrente wahabista, a mesma do EI.
Já a Turquia, país de maioria sunita, portanto opositor ao governo xiita de Damasco e favorável a ação dos rebeldes, viu no conflito da Síria uma oportunidade de enfraquecer o povo curdo, grupo apoiado pelos americanos, que habita e controla o extremo norte do país, em uma região conhecida como Curdistão Sírio, em uma espécie de guerra particular. Os curdos também são opositores ao EI.
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