Precedentes: a independência do subcontinente indiano
Até a Segunda Guerra Mundial, todo o subcontinente indiano, que inclui, além da Índia, os atuais Paquistão, Bangladesh, Mianmar e Sri Lanka, eram colônias da Coroa Britânica. O noroeste, em geral, era habitado por uma maioria islâmica, enquanto que o restante do território tinha maioria hindu. A partir do fim do grande conflito mundial, no contexto de esfacelacimento dos grandes impérios coloniais, o subcontinente indiano conquistou sua independência, mais precisamente no ano de 1947. Esta conquista se deu, em especial, pela ação do líder pacifista Mahatma Gandhi, que liderou um grande movimento de boicote aos produtos britânicos e de desobediência civil.
Região sob domínio britânico até o século XX |
Após a conquista da independência, porém, conflitos internos começaram a ganhar cada vez mais força. Desacreditados que a criação de um Estado Nacional único, em conjunto com os povos hindus, poderia trazer efeitos positivos, os muçulmanos do subcontinente organizaram-se na chamada Liga Muçulmana, que tinha por objetivo lutar pela criação de um Estado islâmico próprio para os seguidores da religião maometana.
Deve-se salientar que as religiões islâmica e hindu apresentam muitas diferenças, que justificariam esta luta pela criação de dois Estados. Enquanto que os muçulmanos são monoteístas, isto é, acreditam em apenas um deus, os hindus são politeístas, creem na existência de várias divindades. Além disso, a religião hindu preconiza a existência de uma estrutura social rígida, regida por castas, enquanto que o Islã crê na igualmente dos homens perante a Alá.
A divisão da nação indiana em duas foi, portanto, bastante conturbada, envolvendo o trânsito de cerca de 12 milhões de pessoas entre as áreas a serem divididas. Os conflitos entre os dois povos resultaram na morte de cerca de 200 mil pessoas.
O resultado disto tudo foi a reivindicada divisão do país. Os muçulmanos ficaram com as terras a noroeste e uma pequena região no centro-leste do país (hoje conhecida como Bangladesh), onde instituíram o Paquistão. Uma ilha ao sul da península indiana passou a se chamar Ceilão (hoje, Sri Lanka). O restante do território ficou com o povo hindu, onde estabeleceram a Índia. Porém, esta divisão do território gerou sérios conflitos entre os dois povos. Uma área de cerca de 220 km², ao norte do Paquistão, até então sob domínio do marajá Hari Singh Bahadur, conhecida genericamente como Caxemira, foi cedida para a Índia. Porém, a imensa maioria da população da região, cerca de 80%, seguia o islamismo e não aceitava fazer parte do país hindu.
O conflito
A disputa pela região da Caxemira não tem a ver apenas com diferenças étnico-religiosas. Sendo uma região montanhosa, é nela onde nascem os rios mais importantes do Paquistão e da Índia, o Indo e o Ganges, respectivamente. Além disso, é necessário salientar que a região de disputa, na verdade, é constituída de vários territórios, entre eles a Caxemira. Atualmente, sob comando do Paquistão, estão os territórios de Gilgit e Baltisan, além de uma estreita porção no leste da Caxemira, enquanto que a Índia administra o restante da Caxemira e os territórios de Jammu e Ladakh, sendo os três oficialmente tratados pelo governo indiano como território de “Caxemira e Jammu”. Ainda, a China administra o território de Aksai Chin.
Divisão atual da Caxemira |
Esta divisão foi resultado de um pequeno conflito, que ocorreu no ano de 1948. Ambas as nações reivindicavam o controle total da região. Outros conflitos de grandes proporções ocorreram em 1965 e 1971.
A disputa pela região também teve forte influência da Guerra Fria. Ocupando um posição estratégica, próxima das repúblicas do sul da União Soviética, a Índia sofreu investidas dos EUA para alinhar-se ao seu eixo anti-comunista. Porém, o país preferiu ser imparcial. A partir da década de 1950, porém, os EUA passaram a oferecer apoio bélico ao Paquistão, o que levou ao governo indiano a buscar armamento soviético. Quando os soviéticos invadem e ocupam o Afeganistão, em 1979, o governo americano se alinha às forças paquistanesas, com objetivo de fomentar o embate do governo de Islamabad (Paquistão) contra os comunistas do país vizinho. O governo da Índia, por sua vez, se nega a se defrontar com a investida soviética no Afeganistão, evidenciando o alinhamento entre os dois países.
Atualmente, o conflito pela Caxemira é bastante preocupante, principalmente pelo fato de tanto Índia quanto Paquistão apresentaram arsenais nucleares. Na década de 1960, ambos os países se recusaram a assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
As tensões entre os dois países começaram a tornarem-se mais amistosas a partir de 2002, quando um partido de posição conciliatória, o Partido Democrático do Povo, venceu as eleições na região da Caxemira e Jammu (Índia). Em 2003, o primeiro-ministro da Índia, Atal Bihari Vajpayee, entra em negociações com o governo paquistanês com intuito de estabelecer a paz, que culminou em um aliviante, não só para os países envolvidos, mas também para o mundo, cessar-fogo. Uma solução permanente para o entrave, porém, ainda está distante.
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