Os curdos constituem, atualmente, a maior nação do mundo sem território. Em outras palavras, apesar de se constituírem como um só povo, apresentarem a mesma cultura e uma identidade nacional conjunta, formando, portanto, uma nação, os curdos não detém um espaço delimitado onde podem exercer seu poder, através da ação de um Estado e de um conjunto de normas e regras reguladoras.
Desta forma, o povo curdo se espalha por uma região que engloba cerca de seis países: Armênia, Azerbaijão, Síria, Irã, Iraque e Turquia. Possuem um idioma em comum, o curdo, e são, em sua maioria, muçulmanos da corrente sunita.
Localização geográfica do povo curdo. Elaboração própria. |
Os curdos almejam a criação de um Estado Nacional próprio. Para isso, apoiaram a ação do exército americano no Iraque, visto que a ação curda era uma das principais adversárias do governo de Saddam Hussein, rival dos EUA. O objetivo deste apoio era consolidar a autonomia parcial da região do Curdistão Iraquiano, localizada no norte do Iraque, onde os curdos gozam de certa autonomia política. Os EUA, no contexto da Guerra do Golfo (1990-1991), em conjunto com outras nações do Ocidente, criaram uma zona de exclusão no norte iraquiano, impedindo a ação do governo central de Bagdá na região de administração curda.
A organização pela luta pela independência, porém, surgiu bem antes. Em 1984, foi fundado um grupo separatista, atualmente identificado como um grupo terrorista, conhecido como Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), liderado por Abdullah Öcalan. Já em 1985, este grupo iniciou um levante contra o governo de Hussein, durante o período de Guerra entre Irã e Iraque. O governo de Bagdá reagiu ao levante com uma dura repressão, marcado pelo uso de armas químicas, pela destruição de vilas e pela morte de milhares de curdos.
Abdullah Öcalan, líder do PKK |
Além do Iraque, a Turquia é outro país que mantém relações de repressão com povo curdo. Após a Guerra do Golfo, muitos curdos tentaram fugir do Iraque para a Turquia. O governo de Istambul, porém, responsabilizando os curdos por ataques terroristas no país, enviou seu exército para impedir a sua entrada pelo país vizinho. A Turquia, porém, por pressão da União Europeia, que passou a exigir, como condição a priori para a entrada do país no bloco econômico, o respeito aos direitos humanos por parte do governo central, incluindo, portanto, a aceitação da etnia curda, legalizou o ensino do idioma curdo nas escolas turcas, uma antiga reivindicação do grupo, significando um prenúncio do fim da repressão deste povo por Istambul.
Com a morte de Hussein, com quem o povo curdo tinha grandes entraves, houve uma manutenção da autonomia do Curdistão Iraquiano. Estes fatores levaram o PKK, em meados de 2009, a desistir da luta pela formação de um Estado Curdo, focando, a partir de então, suas lutas pela preservação e pelo avanço de seus direitos nos países que ocupam. Porém, esta situação de calmaria durou pouco, os ataques terroristas, principalmente na Turquia, no Iraque e na Síria, continuaram, e a questão curda continua sem aparente resolução.
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