Hierarquia Urbana Brasileira

As cidades, no Brasil e no mundo, são organizadas conforme uma ordem lógica de grandeza ou, falando “geografiquês”, de centralidade.

Esta centralidade está relacionada com o grau de dependência de uma cidade perante a outra. Sob o escopo desta dependência, estão necessidades da população, como deslocamento por escola, universidade ou saúde, e de corporações, que buscam em outras regiões bens, pessoas ou capital.

Exemplificando. Augusto mora no município de Palhoça, na Região Metropolitana de Florianópolis. Sendo estudante de ensino superior, desloca-se diariamente para Florianópolis. Trabalha na mesma cidade. Com base no caso particular de Augusto, interpretamos que Florianópolis exerce grande nível de polaridade sobre Palhoça.

Todavia, Augusto fará uma viagem internacional. Para viajar, se deslocará do Aeroporto de Florianópolis para o Aeroporto de Guarulhos/São Paulo e, em seguida, irá ao seu destino. Isto quer dizer que, para uma atividade mais complexa, Florianópolis são suprirá as necessidades de Augusto. São Paulo, assim, exerce polaridade sobre Florianópolis.

Foi a partir desta base teórica que, em 2007, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) formulou o estudo intitulado “Regiões de Influência das Cidades”, o REGIC, que passou a balizar as discussões acerca da hierarquia urbana brasileira.

Para este estudo, apontou-se duas modalidades de Centros de Gestão de Território: de Gestão Federal e de Gestão Empresarial.

Estes centros são, mais especificamente, cidades que possuem em seus limites determinados locais cujas decisões impactam local, regional e nacionalmente.

É o caso por exemplo de Agências da Previdência Social, sedes do Ministério do Trabalho ou sedes e filiais de empresas de relevância.

Organograma indicativo do método por trás da definição dos Centros de Gestão do Território. IBGE (2007).

Além disso foram consideradas atividades secundárias que também capacitam as cidades onde se localizam de certa centralidade. Incluem-se:

  • Diversidade de comércios e serviços;
  • Oferta de serviços bancários;
  • Existência de Universidades, Faculdades ou Centros Universitários com cursos de Graduação e Pós-Graduação;
  • Serviços de saúde;
  • Oferta de domínios de internet;
  • Existência de sedes e de filiais de emissoras de TV;
  • Conexões aéreas.

A partir do cruzamento destas informações e de outras de cunho secundário, foi possível categorizar as cidades conforme sua posição na hierarquia urbana nacional.

Hierarquia dos centros urbanos

Assim, classificou-se as cidades brasileiras em cinco níveis principais, alguns contendo subdivisões. Quanto mais elevado o nível, maior grau de polarização a cidade exerce sobre a vizinhança.

1. Metrópole

As metrópoles são as cidades classificadas no topo da hierarquia urbana brasileira. Isto quer dizer que exercem grande centralidade sobre regiões de grande proporção do território nacional.

São divididas em:

Grande metrópole nacional: São Paulo (SP);

Metrópole nacional: Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF);

Metrópole: Manaus (AM), Belém (PA), Fortaleza (CE), Recife (PE), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Porto Alegre (RS).

Note: Enquanto Brasília tinha em 2007 uma população de 3,2 milhões de habitantes, Belo Horizonte tinha 5,1 milhões. O fato de ser maior são coloca Belo Horizonte em posição hierárquica superior a Brasília.

2. Capital Regional

Exercem centralidade sobre uma área menor que as metrópoles e são polarizadas por uma delas. São subdivididas em:

Capital Regional A: Maioria das capitais estaduais não incluídas como metrópoles (por exemplo, Florianópolis (SC), Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT)) e a cidade de Campinas.

Capital Regional B: Cerca de vinte cidades, dentre as quais Joinville (SC), Uberlândia (MG) e Porto Velho (RO).

Capital Regional C: 39 cidades. Por exemplo: Sorocaba (SP), Criciúma (SC) e Rio Branco (AC).

3. Centro sub-regional

Cidades com centralidade reduzida, geralmente intra-estadual. São subjugadas a uma ou mais capitais regionais.

São divididas em:

Centro sub-regional A: 169 cidades, dentre as quais Barra dos Garças (MT), Macaé (RJ) e Barbacena (MG).

Centro sub-regional B: 79 cidades, dentre as quais Parintins (AM) e Itapipoca (CE)

4. Centro de zona

Cidades com nível de polarização limitado a sua vizinhança. São 559 cidades, divididas em Centros de Zona A (192 cidades) e Centros de Zona B (364 cidades).

5. Centro local

Demais 4.473 municípios, cuja centralidade se limita aos seus limites municipais.

Assim, a hierarquia urbana brasileira se constitui em:

Ordem hierárquica dos centros urbanos brasileiros

É importante entender que o Centro Local liga-se à Metrópole, passando por todos ou pela maioria dos graus hierárquicos dispostos acima, este que, por sua vez, podem incluir uma ou mais cidades.

Veja abaixo um exemplo de “mapa” a hierarquia urbana de um município litorâneo de Santa Catarina:

Hierarquia Urbana do município de Itapema (SC)

Neste caso, é válido lembrar que Florianópolis é um centro com múltiplas vinculações, pois é polarizado em mesmo grau por Porto Alegre (SC) e por Curitiba (PR). É o que também ocorre com Juiz de Fora (MG), ligada a Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro, por exemplo.

Detalhe de uma porção da Região de Influência da cidade de Florianópolis (SC).
Detalhe de uma porção da Região de Influência da cidade de Florianópolis (SC). IBGE (2007)

Desta forma, temos um importante referencial teórico para análises espaciais. Entender a hierarquia urbana auxilia na melhor distribuição de recursos, na alocação de empresas e equipamentos urbanos e no entendimento da dinâmica regional brasileira.

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Meu nome é Fernando Soares de Jesus, natural de Imbituba/SC, geógrafo pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrando na área de Desenvolvimento Regional e Urbano na mesma instituição. Criei este blog ainda no Ensino Médio, em meados de 2013, com o objetivo de compartilhar e democratizar o conhecimento geográfico, desde o campo físico até o campo humano, permitindo seu acesso de maneira clara e descomplicada.

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